Para ele a vida se mede em minutos, o que pode tornar cada momento um momento pra sempre, e cada momento um momento que seja um quase nunca. E tudo assim se repete, repete repete e repete. Rompendo assim o tempo dele, o tempo dos outros, um tempo não mais absoluto.
Ele se foi mas o coração ficou. E ficou batendo. E apesar de toda a hipocrisia, que ele nega enxergar, porque acredita no que homem pode ter de bom, ele ainda acredita. E ah, sim, se ele pudesse, ele seria como todos os outros. Mas é tão dificil negar essa doçura. Doçura essa que chega a enjoar, causar ânsias. Ele não quer ser doce, gentil. Ele simplesmente é, e sem querer acaba se cansando disso. E cansar de si mesmo é tão dificil.
Por alguns momentos, ele queria que um buraco se abrisse, seus pés perdessem o chão e ele sumisse. Por algumas horas, meses, ou talvez os minutos. Morrer por alguns instantes, sabe como é? E torcer pra poder voltar, ou simplesmente ficar.
Mas isso seria tão fácil como fugir com as pernas, ou pensamento. Teimosia essa, de tentar resolver as coisas. As suas coisas. E de mais ninguém.
E enquanto as pessoas ao redor dançam, gritam, pulam e mexem histericamente os braços, ele leva o cigarro a boca e só consegue ver a luz que pisca e ofusca.
E é essa mistura de sentimentos que causa esse tremendo vazio, essa tremenda irritação. Estar descontente com tanta coisa, e estar se sentindo impotente para com isso tudo causa um certo estado de dormência que ele não pode suportar. Quer abrir os olhos, acordar e novamente lavar do rosto tudo isso. Mas não, não dessa vez.
Escuta. Fala. Canta.
E por fim desiste e tenta novamente dormir, esperando que amanhã as coisas estejam em seu lugar, e estarão sim. Ele sempre passa por isso, sempre. Quem sabe seja a hora de tentar diferente.
Ele não pode pedir desculpas por não preencher todo o espaço que lhe cabe.
Ele não pode pedir desculpas por não ser tudo o que esperam que ele seja.
Ele só pode, mais uma vez, rir e dizer as besteiras que sempre fala.
E entender, mais uma vez, compreender tudo. Mesmo quando, no fundo, ele sabe que não é bem assim.
Por que nunca é.
Desculpas, ele pede a si mesmo, por não poder, nesse momento, tornar todas as palavras uma poesia. E, mais uma vez, mesmo na prosa, ele encontra o poema. Poema que não é em si poesia, mas quase satisfaz.
E mais uma vez, nesse quase, ele sente-se um pouco melhor.
Tira os fones que abafam o som, e decide dormir.
E antes de deitar, sente como se todos os comodos da casa estivessem contidos no teto do quarto. E sente como se toda a cidade ali estivesse.
E sente que apesar de tudo isso, ele ainda está sozinho, andando sobre os próprios pés.
Que bom.
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