sexta-feira, março 31, 2006

quinta-feira, março 30, 2006

Insônia de Ontem

Ele deita a cabeça no travesseiro, não consegue fechar os olhos...
Por quê? Não sabe, se soubesse, dormiria tranquilo. Mas ele pode imaginar.
Então, aproveitando o momento de indesejada atividade, resolve, mais uma vez pensar.
Ah, se fosse possível perder esse hábito nojento. Mas não, ele insiste.
Pensa em tudo que tem passado, e lembra-se de uma só frase: "seja mais pleno, seja mais leve. procure leveza" ela disse.
Ela, sim, minha menina com ême. Ela diz tantas coisas que eu não queria ouvir, e tanta coisa que eu preciso. Quem mais no mundo teria um gato gordo preto e uma gata magra branca? E quem mais no mundo me emprestaria um chapéu preto? E, além disso tudo, alguém além dela ouviria minhas palavras com tal atenção que as faria soar importantes?
Sim, as vezes tudo que precisamos é de um par de ouvidos atentos.
E sim, muitas vezes precisamos tornar nossos ouvidos mais atentos. Escutar amigos, escutar músicas, escutar. Não só o que vem de dentro, mas tudo que vem de fora.
Ele tem se ausentado do mundo, como se o asteróide não fosse parte dele.
E não, não está de passagem.




E ele dormiu, depois de ler, depois de pensar. Grato.
Não precisou de mais um cigarro,
Não precisou de mais um comprimido...
E tampouco de um beijo de boa noite.

quarta-feira, março 29, 2006

Linguagem

"Não, deveras não somos de porcelana", ele se surpreende falando em voz alta no trajeto de volta para casa. Reflete a longa discussão de grandes pensadores na sala de casa, que até as cinco da manhã consumia o conhaque.
Caos, ordem, obssessividade, histeria, medo, sexualidade, controle. Sim, tudo não passa de linguagem...
Então, porque continuar a escrever, se tudo se resume a querer comunicar? E comunicar inclui o fato de querer expor pra si mesmo, de maneira clara, tudo que se sente/pensa?
Um cigarro. Pronto. Pulmões cheios de fumaça pra relaxar um corpo cheio de tremores, e uma mente cheia de conflitos.
Existem perguntas pessoais demais para serem discutidas, conclui. Mas, não há então, nada de absoluto no mundo.
Queria eu saber, como penso que tu gostaria. Mas, além de todas as palavras sobre tempo/espaço/linguagem, algo fala mais alto.
Um linguagem menos clara, mas muito mais forte que qualquer palavra dita ou escrita.
Um linguagem que não depende de paradigmas ou paradoxos. Uma linguagem compreensível enquanto nada mais parece fazer sentido.
E nisso ele agarra-se. E nisso ele concentra-se.
E acalma-se. Pronto, está tranquilo. Tem um longo caminho a percorrer, ainda. E assim, pensa na taça de vinho, no copo de água, e na fome que tem.
E isso, acima de tudo, o lembra de estar vivo. Não que ele tenha esquecido, pois isso seria imperdoável. Seu coração ainda bate, forte e ritmadamente na maior parte do tempo.
E ele decide escrever, não sobre as leves carícias que passaram desapercebidas, ou sobre o que pensava enquanto tudo era dito. Decide, sim, escrever sobre si mesmo.
E pelo menos isso ele pensa que sabe.

E sabendo isso, sabe que deve continuar. Não terminou ainda, pensa. E nada termina sem um fim. E assim, decide nunca mais rabiscar nenhuma foto.

para R. R., com pesar.

segunda-feira, março 27, 2006

The Dreamers



"O fato de não existir Deus não significa que você pode tomar o lugar dele"
Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci
(Já perdi as contas de quantas vezes assisti, e assistiria mais tantas vezes até não poder contar.)

Mais um começo

É o dia que passa muito rápido, e não ele que dorme demais. Pelo menos, prefere pensar assim. E acorda depois do sono mal dormido já lembrado de tudo aquilo que ouviu. Bom e ruim, poderia ser, mas seus ouvidos consideraram tudo como positivo. Algo que não pode ser negado, não se nega. E ponto. E assim, decide prosseguir. E começar tudo denovo. Não quer pensar se vale a pena, muito menos no que tudo isso pode terminar. Apenas quer tentar, pela enésima vez, de forma diferente. Quem dera não fosse tão teimoso, e quem dera não quisesse tanto. Mas como é inevitável, abre o peito. E espera? Não, não dessa vez. Entrar no ritmo da dança, as vezes, é muito complicado. Principalmente quando se dança a dois.



"And I saw you But that's not an invitation That's all I get If this is communication I disconnect I've seen you, I know you But I don't know How to connect, so I disconnect"

domingo, março 26, 2006

Domingo

Mais um domingo. Sim, ele não gosta de domingos. Dias cheios de tédio, nada para fazer e muito tempo livre. Tempo esse que certamente será tomado por pensamentos livres, que certamente o tornarão melancólico ou irritadiço.
Procura encontrar algo para fazer. Há, sobre a cabeceira da cama, um livro a ser terminado.
Pronto, seus minutos serão menos ociosos.
No ínicio, as palavas, por mais desconexas que sejam, parecem entreter. Mas conforme as páginas passam, suas pernas se tornam inquietas e o livro não apetece mais. Quem sabe não seja o momento.
Liga o som, sem preocupar-se com o que vai ouvir. Por sorte, escuta a conhecida voz de Nina Persson. Novamente pensa em quão coincidentes com o que sente as palavras dela são, e quão absurdo parece pensar que alguém já sentiu tudo isso antes, e tornou música.
Com isso, desiste de tentar evitar os pensamentos mais óbvios.
Aqueles que vão, mais ou cedo ou mais tarde, fazê-lo sentir aquelas borboletas que já pensou em matar. Sai de casa, acende um cigarro, e sente o vento que torna o dia mais frio. Sente vontade de estar na cama novamente, aconchegado por entre as cobertas.
Essa cama que nunca pareceu tão grande...
Seria egoísmo considerar tudo isso como somente seu e único, já que é humano.

Senta-se no banco branco sob o arco de trepadeiras, olha para o céu azul e cinza ao mesmo tempo, imagina-se exatamente assim, e vê que tudo na natureza é exatamente como ele.
Inconstante, cheio de nuances, fúria e tranquilidade.
Infla os pulmões e sente-se mais leve. Quem sabe seja melhor assim, pensa.

...

sábado, março 25, 2006

Café?

E ele acorda novamente mais tarde do que devia. Tomaria um café, mas lembra-se que não gosta de café.
Então acende um cigarro. Não gosta de ver as mãos tremendo logo que acorda, então não presta atenção nelas. E assim, volta sua atenção para algo tão sem importância que chega a irritar: seu coração.
Pensa, novamente, em tudo que tem passado esse órgão mediano pulsante designado erroneamente como centro dos sentimentos (e mesmo sabendo disso, prefere levar todos esses sentimentos ao coração do que encará-los como um acontecimento físico-químico entre dois axônios).
Novamente, desvia a atenção. Pensa então nos cds que precisa organizar um dia, e nos livros que precisa terminar. Assim como a história do coração. E volta-se para isso.
Tão díficil fugir, fingir ou ignorar. Simples seria arrancá-lo de dentro do peito e colocá-lo dentro de uma caixa. Mas, como sabemos, não seria o fim desse problema, afinal de contas, os sentimentos todos são consequências de reações físico-químicas que ocorrem no hemisfério direito do cérebro. Mas sem cérebro ele não quer ficar. Antes sem coração, mas sem cérebro, nada feito.
Pensa: seria tão comodo se apenas víssemos o que queremos ver, ouvíssemos o que agrada aos ouvidos e sentíssemos apenas aquilo que nos traz segurança.
E assim, mataríamos as borboletas que moram no estômago, e esqueceríamos a sensação das asas batendo, que muitas vezes causam náuseas, e tantas outras causam arrepios. E desiste.
Pensa no cotidiano repleto de cores impostas, barulhos ensurdecedores, sensações adversas.
E nas cores das telas, e no som da música, e de sentimentos verdadeiros.
Vê um flamboyant, escuta o gato miando por comida, e sente o beijo de bom dia que não existiu.

E assim, decide tomar sua xícara de café.

Uma resenha particular: "Elizabethtown"



Contrariando as críticas negativas que eu vi e ouvi, o filme foi surpreendente. Acho que a qualidade de um filme está diretamente ligada ao estímulo que ele proporciona, e dessa forma considero o filme muito bom. Apenas quem passou por situações semelhantes pelas quais Drew passou pode realmente entender o que se passa na cabeça de alguém que perde as perspectivas, mesmo que por um instante. Alguém, que pelo menos por um minuto, segundo, fração de segundo, soube que veria alguém tão importante pela última vez.
O ser humano não sabe se despedir.
É díficil seguir em frente, é díficil encarar a mudança. Se mudanças, quando por opção já são difíceis, imagine só quando obrigatórias. Quando inevitáveis. É muito duro sapatear sozinho no palco, como é duro pensar que deveria-se ter feito essa viagem, ou pintado aquela cerca, ou conversado sobre isso antes.
Felizes daqueles que encontram alguém como a Claire. E mais felizes ainda aqueles que são como ela.
(Ah! E a trilha sonora é linda.)

sexta-feira, março 24, 2006

Estréia

começando a espalhar palavras ao vento,
via esses cabos de fibra ótica.
espero que não se percam.

e elas nunca se perdem, sempre encontram seu rumo.
até mesmo quando desejamos que estejam longe,
chegam ao marco feito.

quem dera controlássemos o vento,
as palavras,
o pensamento,
e o coração.

doce coração sem dono.

(manu, obrigado pelo insight. esse endereço veio a calhar...)