quinta-feira, abril 26, 2007

Enquanto escrevo, não nego, sinto arrepios. O frio chegou. O vento bate nas janelas e portas, tudo faz barulho, tudo se move. Aparentemente sozinho. E de sozinho em sozinho, neste momento, me sinto acompanhado. Cada pessoa que esfrega as mãos em torno do proprio braço questionando o frio repentino. Cada janela que bate e se fecha. Cada qualquer coisa ao vento, que foge das mãos.

E a doçura daquilo que nem lembro mais, e a saudade dos meus pais. E a saudade do calor do abraço, e a lágrima que teima em ficar... sinto congelar. E mais frio sinto, por esta frieza. Por este controle. Por este momento.
Quase luz nenhuma, quase som nenhum, tec tec tec de teclado, zunido de vento... quase escuto o coração bater... será que bate? Não posso dizer. Apenas esperar. Estar aqui é desafio.

Tudo parece desmoronar. Tão dificil de construir, e tão fácil ver cair. Tudo impulsiona, força estupida que te faz seguir, e não reclamo, apenas admito: seria mais facil deixar tudo escorrer e mudar. Seria mais facil não procurar tuas partes em mim, nem no travesseiro. Seria sim. Deixar de ver os cabelos presos na camisa, e esquecer como lá foram parar. Ignorar as mensagens que ainda estão ali, não sei bem o porquê. Fingir não saber o que espero.

Acumulo de sujeira por cantos e ralos, lixo nas lixeiras. Acumulo de medos e certezas, acumulo de mim. Não caibo mais em mim, e não consigo transbordar. Elasticidade cruel que te mantem dentro de ti! Qual a finalidade? Por que é tão dificil fugir do que se é? Mesmo mentindo, ninguém consegue enganar. Sempre há alguém que sabe a verdade. Mesmo que seja apenas quem a omite, distorce ou ignora.

Verdade. Pra quê?

Só sei que das minhas verdades certeza não tenho mais. E sei que delas só eu posso depender. E agora, falta o quê?
Uma mentira. Uma mentira apenas. Que me faça feliz.

quarta-feira, abril 18, 2007

Acorda e finge nada ter acontecido. Seria mais um dia daqueles, se não fossem os pássaros que cantavam. Sei lá, parece que choveria se não fosse o sol, ou que ventaria se o ar não estivesse tão parado. Seguindo os passos diários que segue para estar pronto para viver o dia de número extenso já em sua vida, deixa a agua quente levar o sono, os sonhos...
É tão duro fugir de tudo e ao deitar, tentar descansar e de tudo lembrar... como se o sono soubesse que não necessário era, que soubesse que é preciso repensar...

E ressurge, e causa dúvida, desconforto, dor, tristeza, raiva até.

E do nada some novamente...

E o próximo dia vai ser mais igual aos demais, depois desse pequeno tormento.

segunda-feira, abril 16, 2007

Caiu do céu, e sem saber se estava embriagado ou não mais, acreditei. Era como qualquer dia de inverno: cinza, talvez branco, e agradável. Vento frio, exigindo um toque incomum na pele. E doeu tanto, pareciam ser as minhas pernas chocando-se contra o chão. Levantou-se, sorriu e eu sem saber, olhei sem acreditar. Talvez tenha percebido. Não sei mais. Mas foi acontecendo lentamente e deixou algumas marcas indeléveis. Me incomoda ainda.
Me incomoda, um ano depois, me incomoda. E não acredito. Sempre essa história de "you are the only one"... talvez seja.
Bobagens. Ainda tenho tempo para saber. Mas sabe, em momentos inoportunos, um domingo a noite, ou melhor, uma segunda de madrugada, surpreendo-me com tudo que não queria ler, ou ver. Refluxo. Esses meses que passaram somem, e tudo volta ao mesmo dia, no mesmo lugar, quando vi um par de olhos, que, posso jurar, preferia nunca mais encontrar.
Entre estes olhos e os meus, hoje, reza uma distancia infinita. O que eu teimo em desacreditar.

Vi, em outros olhos, os mesmos. Vi em outras cores todas as mesmas nuances. E tudo volta. Refluxo. Nostalgia tola, besteira minha. Mas ainda sim tão meu que não consigo me livrar. E tudo parece congelar, ao redor. Uma crosta fina de gelo, reluz.
E não neva aqui. Não tenho como esperar.

segunda-feira, abril 09, 2007

Esta noite tive calafrios. Quente por dentro, frio por fora. E mais dentro, mais fundo, frio. Gélido. Os primeiros ventos de outono se aproximam e tomam conta do intimo, do amago. E tudo reflete na primeira poça que congela. Nunca se consegue fugir do que se é. Há um limite no ser. Diferentemente dos limites do estar, ser tem barreiras. Ser é inevitável. Ser um só.
No meu caso, sou inverno, fim de outono. Sou folha que cai. Estalo. Flutuo, porém caio. Inevitável, eu sei. Inevitável, eu diria.
Inevitável como minhas frases simples. Queria mais pretensão... mas sabe, talvez não!
Há possibilidades infinitas dentro de ser. Há limites estabelecidos. Sei que queria ser um, mesmo quando dois. E encontrar metades é dificil. Existem? Aritmeticamente, sim. No meu caso, talvez, eu procure fora do conjunto dos numeros reais... porque sei onde posso encontrar. Não é? Acho que sem saber cansei do perene, cansei do inteiro, cansei do seguro, cansei do vivido, cansei. Quem sabe a fumaça torne mais interessante, a falta de foco, o desfazer da imagem. Quem sabe curiosidade mova meus passos, ao inves de motivação...
Quem sabe eu apenas seja jovem demais para saber. Ou velho demais para entender...

Talvez, até já saiba. E quem pode dizer? Cada palavra escrita ou impressa pode ser de outro alguém. Já li tantos textos que nem sei, e aqui reproduzo cada um deles por meio do que sei. Ou do que ignoro.
E ignorantes muitas vezes são mais felizes mesmo... eles não conseguem sentir arrepios ao ver crianças correndo sem saber porque, ou velhos conversando nas calçadas, acompanhados de enfermeiras (sendo sincero, me enternecem essas imagens... sou amante da juventude, já sabemos, mas são as crianças e velhos que me fazem ver o que há dentro). E não, não nego, sou ignorante muitas vezes... mas esses arrepios me fazem sentir como se soubesse.

E, quando essa febre passar, vou me sentir menos vivo.


(ou mais frio)