segunda-feira, novembro 30, 2009

Da série ensaios: da Lágrima, ou incapacidade de tal.

Ele nunca sentia vontade de chorar. Tanto que, quando sentia, era quase que incontrolável. E, ao sentir, e não poder, era como se nós se dessem em todo seu interior, como se cada órgão estivesse repleto de pedras, cinzentas, empoeiradas. Era como se tudo de umido sumisse e desse lugar ao seco, árido. Aquele sentimento de angustia tão, mas tão intensa que, ao ser notada, se torna apatia.
Era como se ele não estivesse ali. Era como se ele estivesse distante, mas não estava. Simplesmente não quer estar ali, ele. Onde quer ninguém sabe. Nem ele. Naquele sonho, talvez. Mas, longe, longe das pessoas. Longe dele, de você, longe de qualquer pessoa que represente um sentimento passível de ser sentido.
Longe de qualquer sentimento, bom ou ruim. Longe de ser humano. Um pouco mais protegido. Um pouco menos carne, não querendo mais sentir nada. Não querendo calor humano, nem frio, nem nada. Querendo cama, coberta, colo. Livro, quarto, lenço. Querendo menos, menos menos menos menos menos. Cada vez menos.
E dói tanto, tanto quanto aquele querer mais, que consome. A diferença é que, desta vez, estamos arrancando pedaços e deixando para trás. Esse querer menos deixa as cicatrizes das quais vamos todos lembrar depois. E ele não esperava essa tempestade toda, mas não consegue evitar.

Ele só precisa conseguir chorar.




"Heart skipped a beat
And when I caught it you were out of reach
But I'm sure, I'm sure
You've heard if before"

terça-feira, novembro 24, 2009


Meio confuso, ainda, depois de tudo que vi e senti não consigo me livrar do sentimento de que tudo pode ser diferente. É um sentimento de sempre, e não de nunca. E sempre não acaba, não acabando portanto o sentimento. E sempre é palavra sem sexo, não definindo nada. Nem isso.
E por falar em sexo, prefiro não falar.

Só queria saber porque tanta agitação na superficie se o interior se acalma. Confuso ser gente, assim. É como uma pequena pedra no lago parado, gerando ondas que não param de ser concentricas. Até que cheguem até a margem, ou aos meus pés, ou aos seus ou deles, enfim, até se chocar com algo.

É disso que preciso: colisão. Interromper. Quebrar, deixar de ser.
É disso que preciso: nada, então, pois tudo colide e acaba um dia.

Menos esse sentimento de sempre. Já conheço ele. Ele continua existindo, mas fica cada vez mais morno, mais calmo, até sumir no fundo. E deixar de agitar a superficie. E deixar de ser a pedra que causa a onda, mas sim a pedra que afunda, se deposita no fundo e por lá fica.

Até alguém remexer e tirar ela de lá. E, assim sendo, volta a ser a pedra que agita, mas agora, o que há de se fazer?











(as fotos não fazem sentido junto ao texto, somente por si só)

domingo, novembro 15, 2009

Nunca é preciso convidar ninguém duas vezes para fazer algo. Fazer algo é sempre mais fácil do que fazer nada.

Por isso sinto falta de quem me agrada fazendo nada comigo.
Daqueles que passam horas ao lado na cama ao domingo, simplesmente estando ao lado. Em silêncio, muitas vezes. Companhia apenas, simplesmente.

É isso que faz bem, é isso que faz falta.

Alguém pra fazer nada.

terça-feira, novembro 10, 2009

Era seu dia, como qualquer outro. Seu dia de acordar, tomar banho, seguir. Seus dias todos começavam como se fossem domingos: em silêncio, boca seca, cama praticamente intacta. Seus dias sozinho eram assim. Como se fossem um dia qualquer.
Mas no meio desses dias sempre surgiam pequenas tempestades, mudanças no vento, pequenos impactos gigantes. Essas ondas que vem de algum lugar que não sabemos onde e arrastam a calmaria. E ele era engolido por pensamentos antes abandonados, sentimentos de frio e auto-destruição, leve.
E ele sentia aquela saudade quase física, que pensou que não mais teria, e muitas vontades evitadas tão fortemente. E se sentia impotente perante isso, e enquanto máquina trabalhava, trabalhava trabalhava, perdia interesse pelo que ao redor estava, sumiam as letras e numeros, gelavam os dedos e permanecia estático como estátua de mármore, bem gelada.
E nesse resfriamento por anos permanecia e voltava segundos depois, se sentindo estranhamente vazio. Isso quase dava certo prazer, mas ao perceber, se sentia mais vazio e sentia assim esse misero prazer esvair e se tornar uma angustia sem tamanho.
Uma angustia sem palavras, sem toque e sem cor. Com gosto de cinza, com gosto amassado, de cimento ou areia, que tirava a fome e o sono. Uma angustia com gosto de sentimento passado. Uma angustia com cheiro de ar parado, de quarto fechado no sol o dia todo.
E como se livraria dela, se já tinha tentado e não conseguia desfazer? Tentado, será? O suficiente? Engara-se ao pensar que estava pronto para o que estava reservado do lado de fora de si mesmo depois da grande tempestade?

Teria que tornar todos seus dias sábados. Teria que tornar cada minuto um minuto de sol fresco, com cheiro de chuva, com cheiro de hálito, com toque de pele macia pela manhã ao acordar. E denovo constata a necessidade de ser dois, tão intrínseca e humana, tão real.
E não, não sabia até onde ia chegar, mas sabia que a culpa não era só sua. Era do inverno que se foi e do verão que vem.


sábado, novembro 07, 2009

Dá pra saber quando as coisas começam a melhorar pelo tanto que escrevo aqui: se estou bem, muito menos.
Isso é bom.
But I'm missing you in a strange way.

Do meu jeito, creio eu. Não que isso mude alguma coisa. Mas, desse jeito meu, de agora, parou de doer e incomodar. E te vejo com outros olhos, de fora.

E quer saber? Falei demais.

E é tão bom desprender. Que venha o novo.