Mas no meio desses dias sempre surgiam pequenas tempestades, mudanças no vento, pequenos impactos gigantes. Essas ondas que vem de algum lugar que não sabemos onde e arrastam a calmaria. E ele era engolido por pensamentos antes abandonados, sentimentos de frio e auto-destruição, leve.
E ele sentia aquela saudade quase física, que pensou que não mais teria, e muitas vontades evitadas tão fortemente. E se sentia impotente perante isso, e enquanto máquina trabalhava, trabalhava trabalhava, perdia interesse pelo que ao redor estava, sumiam as letras e numeros, gelavam os dedos e permanecia estático como estátua de mármore, bem gelada.
E nesse resfriamento por anos permanecia e voltava segundos depois, se sentindo estranhamente vazio. Isso quase dava certo prazer, mas ao perceber, se sentia mais vazio e sentia assim esse misero prazer esvair e se tornar uma angustia sem tamanho.
Uma angustia sem palavras, sem toque e sem cor. Com gosto de cinza, com gosto amassado, de cimento ou areia, que tirava a fome e o sono. Uma angustia com gosto de sentimento passado. Uma angustia com cheiro de ar parado, de quarto fechado no sol o dia todo.
E como se livraria dela, se já tinha tentado e não conseguia desfazer? Tentado, será? O suficiente? Engara-se ao pensar que estava pronto para o que estava reservado do lado de fora de si mesmo depois da grande tempestade?
Teria que tornar todos seus dias sábados. Teria que tornar cada minuto um minuto de sol fresco, com cheiro de chuva, com cheiro de hálito, com toque de pele macia pela manhã ao acordar. E denovo constata a necessidade de ser dois, tão intrínseca e humana, tão real.
E não, não sabia até onde ia chegar, mas sabia que a culpa não era só sua. Era do inverno que se foi e do verão que vem.
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