quinta-feira, setembro 27, 2007

Um prato sujo sobre a mesa. Olhando para o prato, me pergunto: o que foi servido aí? Pelos restos, pode-se deduzir nada suntuoso ou saboroso, porém e o que há por trás? Um prato nunca é só um prato. Um prato só existe se alguém está ali para comer sobre ele, ou deixa de ser prato. Só há prato quando há alguém para lavar depois, pois senão não tem razão.
Depende de ser gente pra ser prato, depende de ter comida pra ser prato, depende de ser para ser.

Depende de existir para haver, e assim, existindo algo, sempre existe algo a mais. Pode-se deduzir que nada existe sozinho, então?

Sim. E não.
Lavar as mãos, lavar o rosto, lavar as mãos.
Escovar dentes e em passos lentos seguir, para tomar um café e fumar um cigarro em passos lentos e seguindo. E são tantos passos quantos os goles de café, e são tantos passos quanto tragadas do cigarro. Arfando, chegar, parar, sentar, inspirar.
É como se nunca tivesse feito o percurso, nunca tivesse existido. Por entre harpas e anjos, um caminho desconhecido, diretamente para a boca. Sem escuridão, seus dias são estranhos e arredios, fogem por entre os dedos. Sem escuridão, a luz serve para quê? Sem a dor, pra que prazer e alívio? Sem velhice, por que juventude?
Sem pedaços, por que ser inteiro?
Palavras ecoando, saindo de centenas de bocas alheias, atrapalhando o percurso de luz. Como incomoda ser parte do coletivo. Por que somente dois? Como se houvesse apenas uma metade para completar? Como calcular de quantas partes somos feitos é desconhecido. E seguindo vagabundas placas sempre se chega aonde quer...

E para que grama, se é proibido pisar nela?

domingo, setembro 02, 2007

Tinha poucas certezas e menos palavras. Tinha ainda menos senso de humor, nessas horas. Mas sorria irresponsavelmente e ninguém reclamava. Sorria pra não rir, de si mesmo ou de alguém. Mas acima de tudo, de si mesmo.
Ah, conhecia seus defeitos tão bem. E esses sorrisos não são simpáticos, são defensivos. Ninguém se preocupa com sorrisos.

Mas ele sim. Talvez devesse começar a economiza-los.

Quando aquela musica tocou, e todo mundo dançava como se fosse qualquer musica, talvez não fosse. Era a musica dele, apenas dele, naquele momento. E ninguém sabia, nem se atreveu a discutir o assunto. Nem ele.

E era uma musica melancolicamente disfarçada de feliz. Como ele.

E aquele conflito volta a bater na porta: quantos anos merecia ele ter?

Depois de tudo deixar aparecer, na frente de quem talvez nem saiba quem ele era, já não é mais. E deixou muita história pra contar, aquele ser que ele era antes de ser denovo.