domingo, janeiro 30, 2011

Não sou estudioso. Nem filósofo, nem antropólogo, nem historiador, nem sociológo. Muito menos psicólogo. Mas ultimamente tenho me permitido discorrer sobre o momento em que vivemos. Chamo de "Era do Vazio". Sinto que isso é tudo que nos preenche, essa ansiedade. Sentimento de incompleto. Essa volatilidade, vontade de luxo, logo depois, simplicidade. Vontade de ficar rico, e antes disso, defender o meio-ambiente. De viajar, mas sentado na frente do computador. Momento de opostos.

Ciclos curtos, quase que indefinidos, delimitando as vontades de toda uma massa de jovens, que, por acesso a muito informação, não sabe escolher.
Se confunde. Muda de ideologias, segue fielmente a estilos pasteurizados, mesmo que sob a máscara de buscar sua própria identidade. E nisso se esconde a moda, dizendo ser ferramenta de expressão, quando, na verdade, nada expressa, a não ser que hoje, para ser alguém do meio, são necessárias etiquetas. De comportamento, absurdas, e mais absurdas ainda, pregadas nas costuras.
É tudo tão perecível que é mais vazio do que conseguimos nos sentir. E sempre tem um "novo preto", uma nova "it-bag", um novo "shape do ano", uma nova "new face da temporada", tudo meio em inglês, meio em português, como manda o dicionário fashion, roubado e influenciado pelos nossos vizinhos ricos. Olhar pra dentro, do próprio país, continente, de si, ninguém olha. Mas Milão! Nossa! Milão! E nesses movimentos de novidades in-tensas, impensáveis e constantes, a bandeira da sustentabilidade trêmula (sim, com acento mesmo) falsa em todos os eventos e marcas... mas pra quê, então, uma bolsa nova por estação, sendo que essa sua pode muito bem durar mais uns... dois anos?

E é por tudo isso que somos tomados por aquela ânsia, vontade de fazer acontecer. Mas não nos permitimos perder tempo com isso, e esperamos um imediatismo que não existe, em nada, na vida. A não ser na informação, hoje, em tempo real.
Isso leva àquele sentimento de que para ser algo é preciso estar, constantemente, fazendo algo.
Errado.
O ócio é necessário, saudável.
É preciso entender e fortalecer o "self" antes de projetar o "eu".
É preciso, antes de mudar o mundo, aprender a conviver consigo mesmo.
Selecionar informação, escolher seus caminhos. Preencher os espaços.
Temos muito a aprender.


E, tudo indica, esse tempo de Vazio está só começando.

quinta-feira, janeiro 06, 2011

É verão, tudo se faz cor e quente, escorre por entre os dedos. Areia áspera, morna, remexida com os pés. Se falam coisas que antes não seriam ditas, se fazem fotos de momentos que poderiam nunca acabar, porém

na memória continuam outros verões,
e é feliz perceber que se vive esse, tão macio quanto aquele mamão.

E tem esse menino, que nunca ouvi. Só vi, através de seus olhos, nas fotos que ele fez, e que me faz pensar como pode alguém assim existir.
Tão longe, desconhecido, e parte de mim.

Não, não é paixão.
É admiração.

A paixão reservo para o que posso tocar, hoje. Felizmente, isso aprendi.
E no verão, a pele quente, é o toque que se faz presente.