terça-feira, março 27, 2007

Eu achei que pudesse voar. Achei, não acho mais. Acabou. Mas ainda me arrepio. O corpo todo, até. Mesmo quando não sei porque. As vezes, biologico, frio. Mas nem sempre. Tenho vicio em sensações e melancolias. Adoro a nostalgia. E esperança também. Saudade não gosto tanto, mas as vezes faz bem. E sou facilmente emocionável.
As paredes ao redor estão cheias demais. Cheias de mim e deles. Não me sinto sozinho mesmo quando aqui estou, somente eu. A presença existe independentemente da ausência, sinto. E não acredito mais no perene.
Assim como eu, tudo parece extremamente passageiro e solúvel.

Memória, maldita. Nunca se sabe o que vivemos ou imaginamos. O que é e o que sonho. Assim, nunca me esqueço de nada, e o que esqueço, invento. Nem que lembrasse saberia se de fato foi. Mentira. Não sei inventar, assim. Preciso pensar. Criar. Fazer existir. Leva tempo, leva vontade.

E cada vez que desisto, me arrepio. Parece que vou voar. Será essa a sensação da liberdade? Desistir, afinal, e quebrar algumas algemas. Mesmo vencendo, muitas vezes, mantemos as amarras. Talvez devesse desistir mais. Respirar melhor, dormir mais.

Talvez devesse voar.

quarta-feira, março 21, 2007

Existe algo por detrás de um olhar. Certamente que sim. Algo além de um simples alguém, pois se os dedos, carne, músculo, nervo e ossos conseguem pintar uma paisagem inteira em impressionismo verbal, certo que há algo mais que um simples alguém. E de onde vem as impressões pintadas sem tintas nesta tela, senão do convivio diário com um mundo que não é seu?

E aquelas ruas comuns, de centros históricos, cheias de vielas com gritos abafados e baratas com asas abertas tornam-se ruas onde as pedras carregam histórias, e as fachadas das casas vividas pintadas em cores tão vivas quanto as de uma asa de borboleta revelam que o tempo talvez não passe, ou passe demais, e o mascaremos em falsas tintas e falsas peças... as arvores da praça, podadas pelos fios podem ser vistas então como as arvores do verde mais verde, cercadas de cinza e cores tristes e solitárias, pois nelas os pássaros cantam, descansam... pois elas, sim, só elas fornecem sombra fresca no calor de um verão como este. E sob elas, então, homens descansam embalados pelo cantar dos pássaros.

Esses homens, tão solitários. Que ninguém diga que vive em plenitude num mundo onde tudo falta. E tudo fala. E quase nada se escuta.

"Ele acorda, lava o rosto reclamando do calor. Veste-se desajeitadamente, sabe que leva tempo para acordar, vivenciar o mundo de um novo dia... e abrindo definitivamente os olhos, começa a pintar..."

terça-feira, março 20, 2007

Está tudo escuro ao redor, já é mais de meia-noite, e escuto respiração. Ainda sei que a vida presente ao redor permanece. E o sono não vem. E penso, tento entender. E tudo foge. Como os passos mudos na rua, as solas nas pedras, a sujeira nos vãos. Toda a poeira e cinzas. Tudo que me faz lembrar o que posso vir a ser, um dia, quando deixar de sentir. E cada passo precede um arfar, e cada inspiração precede uma respiração. E perdooem-me por estar sendo redundante, pois a vida é.
São dias que seguem dias, são minutos precedidos e sucedidos por minutos. São segundos se amontoando em horas, dias em meses, e anos em décadas, vidas.
Coração bate redundante.

E a fala termina por si só.










"Andava pelas estrelas fitando a sarjeta..."

segunda-feira, março 12, 2007

Tudo continua derretendo. Inclusive você. E o que resta são restos que talvez não valha a pena guardar. Ou talvez sim. Quantos talvezes! O que importa é que eu disse tudo que tinha que ser dito. Não no texto, mas antes dele. E agora cada palavra dita ecoa na palavra escrita. Tão relacionadas... é misterioso.
Tenho ido dormir todos os dias em minha cama-carrossel. Nela, o mundo gira para que eu durma tonto. Nela, eu fico sentado enquanto vejo o sonho passar. E é nela que pretendo um dia estar deitado, e sem sentir, sentir o coração acelerar...
E essa história de ouvir na mente não sai da cabeça... droga de música que não me deixa esquecer. Droga de esquecimento de esquecer. Pancadas na cabeça resolveriam, se eu fosse um desenho animado. E de animado, ultimamente, nada. Desenho melancólico ou irritado.
E amnésia nem existe. É invenção de bebado aprontão. Se a gente esquece, é por que quer esquecer... ou parte de nós quer. Já quanto a se lembrar, por mais que tu queira, parece que é um conflito interno.
Eu queria esquecer de me preocupar e lembrar de sentir. Queria esquecer que sou solteiro e lembrar de namorar.
Queria esquecer quem sou para me encontrar.


Mas, em que lugar? Ah! Se eu pudesse lembrar onde me deixei... talvez só assim entendesse por que caminhos segui.

domingo, março 04, 2007

Tenho passado pouco por aqui. Não sei se as aflições que levam a escrever estão escondidas ou se simplesmente se foram (por um tempo, creio eu), mas sem elas o texto não segue. Sem elas os dedos não teclam. E os motivos são diversos, e todos bons motivos, e são. E por ser, assim é.
Foram dias intensos, de sol e calor demais. Sentia-me derretendo, escurecendo. Sentia-me esvaindo. E retornando, na ducha fria. E vivendo no teu perfume. Mesmo depois de ter deixado que o vento levasse.
E cada vez que penso nos cheiros tudo volta a ser. E tudo é sim. E sabe, quando lembro de ter visto teus passos vindo em minha direção, depois de ter dito adeus, sinto que foi bom. E verdadeiro.
E agora posso voltar a escrever, já que aquela plenitude momentanea se foi e tenho motivos para exercitar os dedos, o ego, o ser.
E sabe, sinto falta de sentir. E até de sentir falta. Mas seria tão bom não ter que. E talvez assim os olhos não fechassem com medo. E eu não sonhasse com possibilidades, e sempre acordasse na hora...

Pelo jeito, agora, as letras vão fluir.