terça-feira, dezembro 22, 2009

Da série ensaios: o Ócio, ou do pensamento solto.

Quando me sinto assim solto, sem amarras de tempo ou alguém, o pensamento solto segue e me faz ir e vir pelo tempo que vivi e viverei. Sim, pois planos para o futuro se misturam com o que o passado guardou, e nessa mistura me vejo sempre perdido.
É como se na vida as rédeas fossem de alguém que não eu.
Entusiasta? Talvez, mas para mim, apenas coragem.
E quando revivo em detalhes o tempo passado me sobra apenas saudade. E quanto vivo em detalhes o que quero do futuro, ansiedade. Mas, sendo assim, qual a dificuldade do presente?
E se, me falta companhia para este presente e minha própria companhia hoje me entedia volto a sentir necessidade do coletivo.
E se pensar me faz sentir sozinho, prefiro deixar pra lá.
Banho, almoço, fazer malas. Deixar o dia me guiar.
E talvez, a noite, enviar estes emails que estão escritos e ainda não saíram da pasta de rascunhos.
Talvez.

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Da série ensaios: Inspiração, ou aquilo que me traz o mar.

Não tenho mais nada a dizer sobre o assunto, e ele é tão recorrente que me sinto aprisionado. Aprisionado como naqueles dias de calor, onde tudo é úmido e cansativo, onde nada flui. Onde até mesmo o mundo parece parado. Mas daí vem o mar, traz brisa, maresia, movimento, faz tudo voltar a viver, faz tudo verão.
Faz tudo ter sentido. E traz o pensamento de que não tivemos isso, eu e você. Não tivemos praia, calor. Não tivemos a sensação de pele na pele, areia, sol. Só tivemos bater de dentes, a noite, antes de dormir. Só tivemos nosso próprio calor. E esse calor não foi suficiente, dissipou.
Dos males da ilha, esse sentimento de verão eterno é um dos piores. Esse sentimento de que nunca nada será seu, de que tudo o mar leva e traz.
Se levasse a saudade, o tesão, a cor dos olhos e os motivos de tantas palavras, que, sinceramente, já não sei mais, seria bom. Mas ah, isso ele só traz.
Ou talvez essa inspiração seja o que resta. Ainda bem.
Infelizmente só escrevo bem na falta de ti (e por ti entenda-se o dois) ou na melancolia, e enquanto essa inspiração durar, nenhum dos dois me fará falta.
Assim espero.

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Da série ensaios: do Físico, ou aquilo que permanece na distância;

Por mais distante que aqueles dias estejam, na inevitabilidade do tempo passado, partes suas permanecem quase que físicas ao meu toque, de tão próximas ainda. E a noite, na lembrança que vem, fulminando, o sono vai. E o que permanece na distância é o físico.
É como se nada mais existisse a não ser a lembrança do toque. Da textura, do cheiro, sensação. Sentimento que escorreu pelos dedos de uma mão fechada, como se fosse água salgada, deixando somente areia na palma, fazendo sentido mais uma vez.
E na perspectiva do não ser/acontecer/ter tudo se vai alegre e continua a existir. E todas as vidas paralelamente construídas continuam a se desconstruir para logo reconstruir. E todos os caminhos continuam a se cruzar e os olhos continuam a ver exatamente as mesmas cores. Hoje, talvez, eu seja melhor do que antes de você. Mas, certamente, não melhor do que quando com você. E o que quase físico é assim permanece na sua existência de caco.
Não quero mais ser dois, compreendo essas partes tão distantes e presentes, e que permaneçam assim. A não ser que tudo fosse diferente. A não ser que tudo fosse sexo. Pois sim, de tudo que foi, o físico permanece.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Da série ensaios: a Memória, ou como caminhar pelo cais.

Sim, ainda me lembro dos segredos da tua anatomia. Aquelas pequenas coisas que se percebe no corpo e que são tão pequenas. Aquelas pequenas inseguranças que nunca fazem diferença.
Também lembro do gosto, de vários gostos. Do beijo de manhã, do beijo a noite, depois do cigarro, da pele do pescoço.
Lembro bem demais do cheiro. Do teu e do perfume.
Da intenção do sorriso, da expressão de felicidade, da expressão de inevitabilidade.
Lembro das tuas calças, tênis, do suéter, da camiseta.
De várias primeiras palavras, de todas as ultimas. De algumas no percurso.
Me lembro principalmente das boas, e isso não é tão bom quanto parece.

Mas, ao fim de todas as lembranças, me esqueci de muita coisa.
E isso me fortalece. Me faz ver o novo, me faz ir além.
É como o fim do cais: há um mar adiante e um caminho atrás. Pode-se percorrer um caminho já feito, ou mergulhar no novo. E dentro da metáfora menos criativa que ocorreu, uma verdade: na insegurança de nadar adiante, esperei olhando para trás.
Até então, até me molhar. De lágrima, chuva, mar, alcool. E depois de tudo ensopado, secar ao sol e seguir molhado.

As lembranças seguem junto, doces, serenas. Não mais acima do mar, no caminho do cais, mas sim dentro dele, fazendo parte do novo. E se no físico não tenho mais, se andei sozinho pelo cais, a memória permanece e sempre será boa.

E a bondade disso é que surpreende. Até me atrevo a pensar que...

Me encontre em alto mar. Agora já não importa se sei ou não nadar.

quarta-feira, dezembro 02, 2009

da série ensaios: Ilusões, ou como Enxergar o Amor onde ele não está;

É tão fácil que chega a ser corriqueiro. Esconder-se em sorrisos, palavras soltas ao vento ou abraços o amor não se esconde. Nem tampouco em longas conversas a distancia. Senão já teria sido encontrado.
Minhas ultimas considerações sobre o assunto são que o amor se esconde no silêncio, no ócio acompanhado e na cumplicidade. E se revela pela mão no ombro ou na perna e pelo pequeno aperto da mão contra a coxa em situação de surpresa. Se revela quando não é preciso falar ao olhar nos olhos e no sorriso bobo e espontaneo ao te ver.
Se revela em não ir, em não fazer, em não estar. Simplesmente porque não é necessário estar ao lado. É necessário estar junto.
Mas a ilusão acontece na palavra bem colocada e no momento de alegria. Ao contrário dos momentos de sossego, brincadeiras tolas e nomes bobos.
Não está na promessa, mas sim no ato.

E sim, está no ciúme. Isso todos sabemos.
Está na ação, e não na intenção. E isso dá medo, muitas vezes. Apesar da intenção, quase sempre, ser tão pura quanto cristal. Se vê através.

Por fim é tão fácil confundir as coisas que muitas vezes preferimos não diferenciar.
E nisto, por fim, residem as dores do amor romântico, clichê cafona e que todos conhecemos.

"eu gosto de ti, nunca brinque com isso...
eu nunca faria isso."