segunda-feira, janeiro 29, 2007

Quantas crianças terá um hedonista deixado escorrer pelo ralo?
Ora, pois sabem todos, crianças tem seu valor.
Enfim, não sei se sei de todo, mas sei que um dia vai ser tão claro quanto a pele que não vê o sol faz meses, sensação essa de estranheza e dor. Prazer, talvez.

E quem sabe, um dia, coragem tenha eu de escrever aqui esses pensamentos tão sujos que me vem a cabeça as vezes, como quando paro pra olhar por entre os vãos dos azulejos durante o banho. Sujeira pelo ralo desce, sujeira pra cabeça sobe?

E como chove.

sábado, janeiro 20, 2007

Lençol listrado bem colorido por cima de um outro lençol roxo. Corpos meio vestidos deitados como se tivesses exaurido toda a energia captada. E placa com a seta de entrada para o lado oposto da porta, logo depois da escada.
Um céu azul depois de uma manhã onde o mundo ameaçava desabar em água sobre as cabeças de todos que andavam desavisados. Um dia quente apesar da expectativa do frio.
As lixeiras na rua cheias, realmente cheias e atraindo as baratas que nunca estiveram tão presentes.
As árvores da praça também parecem reclamar do excesso de sol. Molho o chão com um pouco de minha água salgada, que teima em escorrer pela testa, pelas faces. Mas nem vejo a gota molhar antes do chão parece que some.
Apressar os passos é dificil. Sinaleira vermelha e amarela e verde que fica no verde por 60segundos, como indica o sinal luminoso. Tempo suficiente para a senhora ao meu lado passar, e mais que suficiente para mim.
Outra barata.
O supermercado com fluxo interminavel de pessoas comprando seus cadaveres para o churrasco de domingo, e talvez uma ou outra cerveja. Cachorros levando os donos para passear, e fazendo suas necessidades apenas onde e quando querem.
Alguns olhares.
Descendo a rua já movimentada encontro o mar do dia. Bem azul, apesar da pouca luz natural.
Sinos tocado. Onde? Não sei. Mas tocam. E escuto, e todos escutam na parada de onibus, apesar de estarem mais preocupados com o que iam comer para encher o estomago depois das horas de sono. Assim como eu.
Quando sento parece que finalmente meu dia começa. Todos os pensamentos que tinham sido interrompidos voltam a circular e fazer com que tudo pareça estranho e parcial.


Estranho e parcial. Cansei dessa sensação de estranho e parcial.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

O que esperar?
Os passos seguem;
Pessoas vão,
e vêm.
E os dias passam.
E as noites encurtam,
e a luz se apaga.

E se tiram as roupas,
e se sentem as unhas,
respiram-se as peles,
molham-se os dentes,
os dedos, os olhos.

Tocam-se corpos,
afastam-se
pensamentos.

Faz-se humano,
sangue, suor, saliva.
Faz-se humano,
por instinto.

Faz-se humano,
humano extinto.



E no caminho as placas ainda mostram direções por setas tortas;
e nas ruas as pedras ainda saltam por pneus;
e folhas ainda caem;

e nada muda, por mais mágico que tenha sido.

Rá.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Sem nem saber onde pisaria, tirou os tênis. Como se a diferença fosse grande, já que a sola quase não existe mais naquele par. Primeiro o chão gelado, gelado demais... quase molhado, sentia. Depois, seco, morno... E sem se importar com a dor, segue descalço, repetindo os mesmos erros. Assim, sem proteção alguma, pisando em ovos. E em cacos.
E alguns filetes finos de sangue começam a marcar as pegadas. Seriam uteis para identificar o caminho em caso de retorno, mas não. Ele não pretende voltar. E cada vez mais faminto, anda rápido. E os finos filetes se tornam marcas tão grandes que é impossível não lembrar de por onde se veio.

Cansaço, inchaço... a tolerância acaba quando todo o resto já tinha se ido. E a paciência nunca existira a ponto de sobrepor a vontade.

E assim, só assim, toma atitudes que devem ser tomadas em momentos como esse... talvez tarde, mas coerente.



E o sangue? E os tenis? Nada importa. O que importa é o caminho.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

E esse blog entra em uma espécie de "longo minuto de silêncio"...

Talvez acabe amanhã, ou junto do tédio.
Mas por enquanto, palavras de menos.

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Restos mortais do humano vivo.

Doloroso é ver que segue com meus pedaços a tiracolo. Sim, coisas minhas, tão minhas, que nem sei. Livros, palavras, frases, cores minhas. E só minhas. Cheiros. E nada deixaste pra me completar. Leva nacos, pedaços, que deixa vazios em mim?
Te importaria se eu arrancasse fios do teu cabelo? Poucos, pra completar o espaço vazio.
Acho que não.
Se bem que... ah, deixa pra lá. Cicatriza. E gosto de cicatrizes.

E tudo derrete, nossa. Tudo desce pelo ralo. Ah, veja só, um pedaço teu... uma unha?
Pelo ralo... droga. Era minha chance. Deixa pra lá.
Acho que posso seguir sozinho.

Se eu soubesse da falta que faria, teria guardado o sangue que escovei cuidadosamente dos ladrilhos. Talvez o esperma do lençol, ou até as gotas de saliva no travesseiro. Mas sabe, não tenho o costume de guardar fluidos... absorve-los...

Prefiro ignorar por conhecer.