Enquanto escrevo, não nego, sinto arrepios. O frio chegou. O vento bate nas janelas e portas, tudo faz barulho, tudo se move. Aparentemente sozinho. E de sozinho em sozinho, neste momento, me sinto acompanhado. Cada pessoa que esfrega as mãos em torno do proprio braço questionando o frio repentino. Cada janela que bate e se fecha. Cada qualquer coisa ao vento, que foge das mãos.
E a doçura daquilo que nem lembro mais, e a saudade dos meus pais. E a saudade do calor do abraço, e a lágrima que teima em ficar... sinto congelar. E mais frio sinto, por esta frieza. Por este controle. Por este momento.
Quase luz nenhuma, quase som nenhum, tec tec tec de teclado, zunido de vento... quase escuto o coração bater... será que bate? Não posso dizer. Apenas esperar. Estar aqui é desafio.
Tudo parece desmoronar. Tão dificil de construir, e tão fácil ver cair. Tudo impulsiona, força estupida que te faz seguir, e não reclamo, apenas admito: seria mais facil deixar tudo escorrer e mudar. Seria mais facil não procurar tuas partes em mim, nem no travesseiro. Seria sim. Deixar de ver os cabelos presos na camisa, e esquecer como lá foram parar. Ignorar as mensagens que ainda estão ali, não sei bem o porquê. Fingir não saber o que espero.
Acumulo de sujeira por cantos e ralos, lixo nas lixeiras. Acumulo de medos e certezas, acumulo de mim. Não caibo mais em mim, e não consigo transbordar. Elasticidade cruel que te mantem dentro de ti! Qual a finalidade? Por que é tão dificil fugir do que se é? Mesmo mentindo, ninguém consegue enganar. Sempre há alguém que sabe a verdade. Mesmo que seja apenas quem a omite, distorce ou ignora.
Verdade. Pra quê?
Só sei que das minhas verdades certeza não tenho mais. E sei que delas só eu posso depender. E agora, falta o quê?
Uma mentira. Uma mentira apenas. Que me faça feliz.
Um comentário:
''Tão difícil de construir, e tão fácil ver cair.'' teu texto te faz ser real no imaterial, Ricardo! e é bonito demais. beijo enorme!
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