sábado, março 25, 2006

Café?

E ele acorda novamente mais tarde do que devia. Tomaria um café, mas lembra-se que não gosta de café.
Então acende um cigarro. Não gosta de ver as mãos tremendo logo que acorda, então não presta atenção nelas. E assim, volta sua atenção para algo tão sem importância que chega a irritar: seu coração.
Pensa, novamente, em tudo que tem passado esse órgão mediano pulsante designado erroneamente como centro dos sentimentos (e mesmo sabendo disso, prefere levar todos esses sentimentos ao coração do que encará-los como um acontecimento físico-químico entre dois axônios).
Novamente, desvia a atenção. Pensa então nos cds que precisa organizar um dia, e nos livros que precisa terminar. Assim como a história do coração. E volta-se para isso.
Tão díficil fugir, fingir ou ignorar. Simples seria arrancá-lo de dentro do peito e colocá-lo dentro de uma caixa. Mas, como sabemos, não seria o fim desse problema, afinal de contas, os sentimentos todos são consequências de reações físico-químicas que ocorrem no hemisfério direito do cérebro. Mas sem cérebro ele não quer ficar. Antes sem coração, mas sem cérebro, nada feito.
Pensa: seria tão comodo se apenas víssemos o que queremos ver, ouvíssemos o que agrada aos ouvidos e sentíssemos apenas aquilo que nos traz segurança.
E assim, mataríamos as borboletas que moram no estômago, e esqueceríamos a sensação das asas batendo, que muitas vezes causam náuseas, e tantas outras causam arrepios. E desiste.
Pensa no cotidiano repleto de cores impostas, barulhos ensurdecedores, sensações adversas.
E nas cores das telas, e no som da música, e de sentimentos verdadeiros.
Vê um flamboyant, escuta o gato miando por comida, e sente o beijo de bom dia que não existiu.

E assim, decide tomar sua xícara de café.

5 comentários:

Anônimo disse...

ninguem roba eh meu eh meuuuuuuuu
vou fazer um curta
:)))))))
as coisas mudam...

talulah gosh disse...

não vale a pena sem as borboletas.
adorei, by the way.

Anônimo disse...

uau ricke.
ai que dor dentro disso.
silenzio.

Anônimo disse...

Nossa!
As borboletas...
a gente mata elas ou não?!
Enfim, acho que vai ser sempre assim, elas nunca vão entrar em extinção! A gente vive, se encanta e se depara com o incompreendivel assunto chamado AMOR :-)

turnes disse...

Existe uma teoria que diz que um bater de asas de borboleta no japão repercute no hemisfério oposto, muda tudo.Imagina o que nos muda, essas asas no estômago.