Ele tinha olhos castanhos, assim como o cabelo.
Seu queixo era quadrado, assim como os ombros.
Sua boca grande, assim como as mãos.
Seu tempo curto, assim como a memória.
E seguia, sem saber ao certo para-onde-e-para-quê,
cambaleando, as vezes, depois de exagerar.
Mas seguia, sempre, até que parou.
Olhou nos meus olhos, sorriu, e seguiu.
E assim, foi.
Deixou para trás os olhos e cabelos castanhos,
O queixo, e as mãos,
os ombros, a boca.
O tempo levou consigo, mas esqueceu de lembrar da memória.
Essa, ficou comigo.
A memória das mãos, olhos, cabelos, queixo, boca, sorriso, pernas, braços, cores, cheiros, palavras.
Lágrimas, enfim.
E se repetindo em voltas ao redor de si mesmo, redundante sem se preocupar, disse tudo que queria dizer, mais de uma vez, repetindo como repito. E a trajetória clara das palavras, que saem de uma boca e seguem em direções diversas, sempre rebatendo em paredes, objetos, corpos e timpanos se fez por completa.
Escuta-se, digere-se, faz-se saber.
E, incrivelmente, como uma espiral, sobe e desce sem forma concreta e sem movimentos bruscos. E desaparece por completo até voltar, de encontro à retina, de forma que não se pode evitar. E tudo se materializa. E some.
E nisso, pensamento ligeiro como só ele sabe, se faz sentir e se faz presente. Se faz existir. Existir o que não existe, existir o que se quer. E acreditar, e iludir, e sentir é para quem sente. Para quem sabe. Para quem se perde.
Nesses momentos, uma âncora. Pesada, enferrujada, cruel, maciça: realidade.
E ponto, tudo volta ao começo, e poderia ser relido esse texto sempre sendo verdadeiro.
Mudança é opcional quando se trata de abstração.
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