quarta-feira, outubro 14, 2009

Os tênis sujos, tão sujos, a chuva lavou.
Enquanto corria ensopado, mas rindo, nada pensava a não ser o quanto se sentia vivo. Vivo, ali, naquele momento, sozinho, correndo, com vento batendo e chuva caindo.
A sensação de frio/molhado e o vento fazem sentir mais vivo, concluiu. E talvez esteja certo. Enquanto o corpo lutava para se aquecer, tremia, chacoalhava, pulsava mais. O coração deixava de se ocupar com qualquer outra função e só fazia viver.
E nesses momentos, esquecendo de tentar esquecer ou lembrar de qualquer coisa, sendo apenas um ser vivo, se sentia menos tolo. Menos ao acaso. Se sentia responsável por seu respirar, por cada passo. Se sentia dono de si como há tanto tempo não conseguia.
O dono de seus pedaços deve estar agora correndo também. Molhado também. Colecionando pedaços. Como ele, que corria sem pensar nisso, mas que, ao chegar em casa, enrolado na toalha e ainda rindo, sentiu o peso de ser alguém assim. Assim. Frágil.
Sonhou em bater na janela a noite e pedir pra entrar. Sonhou que entrava e que tudo voltava a ser. Sonhou que podia, a qualquer instante, reverter tudo. Mas.
Mas, sempre mas. Mas e se deveriam ser excluidos da lingua.
Mas, é isso que queria? É voltar para um lugar inseguro, duvidoso e talvez raso? É correr novamente esse risco?
Riscos que fazem sentir vivo. Riscos que fazem dias com sentido. Riscos que fazem querer ser. Riscos que fazem que tudo permaneça assim, como está.
Mas, então, por que corria tanto?

Um comentário:

FErio disse...

Gosto do que escreves, tem qualidade e sentimento. E é autêntico. Vim parar aqui com a mesma aleatoriedade que leio esses textos, a mesma que me faz sorrir ao fim de palavras as vezes tristes. Não pare de escrever senhor.

=P