Ele aparece. Impávido, e me lembro tanto de mim quando o vejo. Da imagem que tenho de mim mesmo, transmitida pelos outros. Deve ser esse ar de leve arrogância, quase que como se nada importasse, nem mesmo a vida. E nessas semelhanças acredito que podemos ser um. Partes separadas, por engano. Por erro.
E na sequencia de coincidencias, da fala e do gesto, nessa meia luz gelada, tudo parece aquecer-se no pensamento insólito de que, se assim for, estamos premeditados a permanecer juntos.
E nesse interim, fração de segundo, uma vida acontece. Perante meus olhos, perante meus sonhos, somos dois, mas um, juntos. Vivendo sorrisos, lembrando de quando dormimos em duas camas, juntas, para que tivessemos mais espaço para encontrarmos um ao outro. Lembrando da luz que entrava pelas frestas no domingo a tarde, quando teimavamos em ficar na cama. Sem comer, só dormir.
Mas, antes dos olhos abrirem novamente, tudo volta. Rápido, como um soco no estomago, tudo se revolta e se esvai.
E os olhos já abertos percebem a parede descascada, o chão de madeira, o teto baixo. Já é possível sentir o cheiro de casa nova, mas não recém construída.
E ele continha onde estava, parado, alto, mais alto do que eu, fumando seu cigarro sem compromisso com ninguém a não ser ele mesmo. E, nesse vislumbre, percebi que o erro foi esse. Acreditar que ele podia ser dois.
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