segunda-feira, novembro 30, 2009

Da série ensaios: da Lágrima, ou incapacidade de tal.

Ele nunca sentia vontade de chorar. Tanto que, quando sentia, era quase que incontrolável. E, ao sentir, e não poder, era como se nós se dessem em todo seu interior, como se cada órgão estivesse repleto de pedras, cinzentas, empoeiradas. Era como se tudo de umido sumisse e desse lugar ao seco, árido. Aquele sentimento de angustia tão, mas tão intensa que, ao ser notada, se torna apatia.
Era como se ele não estivesse ali. Era como se ele estivesse distante, mas não estava. Simplesmente não quer estar ali, ele. Onde quer ninguém sabe. Nem ele. Naquele sonho, talvez. Mas, longe, longe das pessoas. Longe dele, de você, longe de qualquer pessoa que represente um sentimento passível de ser sentido.
Longe de qualquer sentimento, bom ou ruim. Longe de ser humano. Um pouco mais protegido. Um pouco menos carne, não querendo mais sentir nada. Não querendo calor humano, nem frio, nem nada. Querendo cama, coberta, colo. Livro, quarto, lenço. Querendo menos, menos menos menos menos menos. Cada vez menos.
E dói tanto, tanto quanto aquele querer mais, que consome. A diferença é que, desta vez, estamos arrancando pedaços e deixando para trás. Esse querer menos deixa as cicatrizes das quais vamos todos lembrar depois. E ele não esperava essa tempestade toda, mas não consegue evitar.

Ele só precisa conseguir chorar.




"Heart skipped a beat
And when I caught it you were out of reach
But I'm sure, I'm sure
You've heard if before"

3 comentários:

Paulo Vega Jr. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paulo Vega Jr. disse...

gostei dos teus textos.

gabi disse...

putaqueopariu. conexao espiritual