Mais um dia tão comum como qualquer outro para ela.
Acorda, escova os dentes, banha-se. Veste-se, desce degraus, sobe mais cinquenta.
Algumas praças depois está no trabalho.
Trabalha, gosta do que faz. Mas faz tanto tempo que sente falta de sentir o coração palpitar...
Cair na rotina de uma vida faz tudo parecer entediante. Pune-se por ter sido tão precoce em tudo. Hoje, em seus vinte e tantos, sente-se velha. Velha, desinteressante. Sem vontades.
Pisa na barra da saia e vê algo que antes, talvez, a fizesse pensar em coisas mil. Porém, agora, apenas a faz ter vontade de seguir e esquecer. E segue.
Não entra em conflito nenhum com suas vontades. Segue as facilidades.
Esforça-se, sim. Mas o coração já está em outro lugar.
Os raios de sol que transpassam pelos galhos densos salpicando o chão fariam qualquer um olhar.
Ela não. É apenas luz. E nem é a luz de que precisa.
Pensa no que antes era capaz de fazer. Pensa tanto que quase chora.
Cadê aquela menina que tinha nos olhos a força para chegar aonde quer que fosse?
Cadê aquela menina que dizia não ter medo de amar?
Perdeu-se num percurso tão curto que quase ninguém consegue entender.
Paga por isso um preço mais alto do que gostaria.
Sente por isso uma dor que nenhuma tatuagem a faria sentir.
E todos os furos se foram. E todas as tintas desbotaram.
E é no sol do fim de tarde que ela pensa com qual roupa sentiria-se pronta para fechar os olhos e não mais abrir. Pensa, estampa-se.
E sabe como seria, se fosse hoje.
Mas não sabe fazê-lo. Há algumas pessoas que ela deve ver.
Há alguns caminhos a trilhar. E algumas peças perdidas para recuperar.
No momento, não há momento. É tudo vão.
Ela segue, masca chiclete, rumina o azul mais azul.
Enxerga pouco, e tem a visão perfeita.
E o futuro ela não vê. Nem quer.
Nem sabe.
Todos como ela devem saber.
E é por isso que escrevo para ela.
Porque eu sei.
Um comentário:
Nossa :O
é perfeito para uma conhecida minha.
bjo pequenoprincipeto
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