quarta-feira, janeiro 23, 2008

Aos amigos.

Já se vão os dias, por entre uma tragada e outra. E essas dores que nem sei daonde vem. Enquanto meu tempo passa, por entre os dedos, sinto que nem pra todos é assim. Tem coisas que sempre permanecem, imóveis, na teia de dias que se dissolvem. E outras tantas tanto se movem que não percebe-se quando voltam aos seus lugares.
Aquela coisa meio de menina de guardar detalhes já era, e aquelas coisas de homem aparecem. Talvez assim seja, seja assim mesmo. Sinto falta de palavras de professor, tão seguras e decididas. Mas é tempo de relativismos, parece.

E não são braços que fazem nem mãos que constroem. Pensamentos que voam, sim, esses são. Trazem e levam e assim fazem sentido, como faz sentido limpar tua sujeira com as mãos. E não emprestar a mão alheia. Também tem sentido não chorar mais, lágrimas salgadas demais. Quando se para de chorar se percebe o quão bem faz, e o quanto é afirmativo. Nunca fui de chorar muito, não sei até que ponto isso é bom ou ruim.

Algumas saudades dóem, outras nem tanto. Tem aquelas que nem saudade são, de tão profundas. Sensação de presença constante, mesmo distante, que faz sentir tempo perdido como faz o sol por entre as nuvens sentir deus. E questionar existências, como se uma mão universal colocasse tudo em seu caminho. Bobagens. Saudades importam.

Se alguém agora estivesse ouvindo meus dedos ao teclado talvez eu já tivesse parado. E paro porque não há ninguém para ouvir, a não ser eu mesmo.

Preciso dormir.





(para Lorena Paula José Duarte, Gabriele e Juliane Basso, Gabriela Lollato, Tiago Franco, Tiago "Novo", Emanuella Wojcikiewicz, Valeska Gonçalves, Débora Rossetto, Marcele Paim, Camila Florentino e mais alguns nomes que me resguardo)

terça-feira, janeiro 15, 2008

E então você pára. Semi-cerrados os olhos devido ao sol, luz estourada.

Penso: quem dera pudesse mergulhar, mergulhar e esquecer de respirar. Volto, e sinto uma implosão no peito, tal a angustia.

Esse é meu medo: nada é para sempre. Fome de momentos sem fim. Melancolia perene de perda. Esse é meu medo. De que estes olhos estejam fechados e eu não possa mergulhar. De que meus olhos estejam fechados e eu não possa ver...

Penso: os olhos abertos talvez eu possa manter. Mas e o momento, milésimo ou enésimo de segundo que faz a vida assim, o momento esperado ou repugnado, o momento, por si só, assim, acaba?


Você dá alguns passos, a frente. Balança as mãos, mexe os dedos, tocando uns nos outros. Pedras estalam na sola do tênis. A luz reflete nas lentes do óculos, e esse momento é só você.

Penso: faço parte eu, do mundo, quando o momento é inexistente a mim? Percebo este momento, mas de fora. Me excluo. Só sinto. E este momento não é perene.

Falo, e não escuto.





Você pára, amarra os cadarços. Não estou ali para ver, tampouco ser visto. E assim, tudo acaba como começou: em um segundo.

Penso: todos os momentos podem ser comparados a uma música que você acabou de ouvir. No mesmo instante que inicia, acaba. Cada nota percorre a distância necessária e se dissipa, ressoa, ecoa. E acaba. E pode-se ouvir essa mesma música milhares de vezes, e nunca será como a primeira. Memória.

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Nunca me derramei sobre você. Não por falta de vontade, mas também. É o calor, sabe? Deixa a gente com preguiça de ser.
Nunca deixei você ir tão longe.

Talvez de perto as coisas fossem mais tranquilas. Ou aparecessem as imperfeições...

Nunca fiz nada por você, como você fez nada por mim.
E assim, entre todos os nuncas, é saudável estar aqui escrevendo pra você.


(multiplas alternativas)

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Teu amor não é tão cego quanto deveria. E enquanto você acha que engana a muitos, pode ter certeza que engana a poucos, você mesmo e talvez mais uns dois ou três. Nessa sensação de certeza pura, tão grande que não cabe no peito, parece-me de alegria séria e distante.

E não, isso não me faz falta.

Enquanto o mundo se desfaz a conta-gotas pela janela tenho a nitida sensação de gotejar pelo vidro abaixo. Sinuosamente criando caminhos que não vão se repetir mais. E acordei tão cedo nesta folga... pra quê? Pra ver chover? Não. Pra fugir do sono onde você teima em aparecer... com seu falso amor-cego.

Meu corpo em ti é braile.
Teu corpo em mim é baile.