quinta-feira, setembro 28, 2006

Resto de Palavra Unida por Ponto.

Acordar cansado, e sem descansar é o que resta.
Pensar na vida, e sem ter o que fazer, é o que resta.

Tudo que resta é o resto.

Incesto mental, e você nem é meu irmão.
Incerta natureza do que sentir,
e se sentir é incerto, certo é anestesia.

Anestesia essa de tempo.
Anestesia de momento.

E o tempo que não para nem quando peço,
imploro, de joelhos, vai!
E assim espero o tempo.
E assim me perco no vento.

No vácuo, e fico sem ar.
E se você veio para me salvar,
por favor, chegue atrasado.

E o frio resseca a pele, e o coração ressecado está.
E hidrato o corpo com vinho,
e a mente com música,
e o coração com esperança.

Essa, a última que morre.

E se você veio pra me salvar, por favor,
atrasa-te.

O suficiente pra eu retomar o ar,
o suficiente pra ele faltar,
o suficiente pra acordar.

O pesadelo mais extenso,
o sonho mais conturbado,
a realidade mais confusa.
Uma realidade 2.0.

20.

E sozinho chegar.
E sozinho seguir.
E deixar rolar, rosto abaixo.

Quanto tempo leva para atingir o chão?
A primeira gota da primavera, sangue, lágrima?
Chuva depois do trovão.

Contra as nuvens, elevo.
Contra o chão, esforço.
Contra mim mesmo, sem refletir.

Seguir.
Seguir.
Seguir.

Arranhar paredes.
Arranhar costas.
Arranhar discos. Pra você voltar.

Limpei debaixo das unhas, removi tuas células.
Brand new.
Day.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Post do semi-ódio causado pela paixão platônica.

Estava na hora.

Sabe, as vezes eu gosto tanto de ti que te odeio. É, como quando acordo suado por ter sonhado contigo.
E me sinto um imbecil. Sim, imbecil. Enquanto tua vida anda sei lá eu como, a minha fica de pernas pro ar e eu ainda arranjo tempo pra pensar em você. É. E perco aqui muita coisa que passa por mim pelo simples fato de estar com cara de paisagem e com a mente sei lá eu onde.
Pois onde quer quer você se encontre eu consigo te encontrar.
Maldição dos apaixonados!
E fico escutando Adriana Calcanhotto só pra me sentir compreendido. E ela fala, e eu acredito.
E machuca, pra valer. Pra caralho.
Enquanto você viaja, vejo pinguins e lembro de ti. E escuto minha banda preferida e lembro de ti. Visto-me e lembro de ti. Distraio-me e lembro de ti.
Será que é possível?
Que droga colocaram na minha cerveja? Como posso ficar assim? SEMPRE. E CADA VEZ MAIS.
Justo eu, esperando.
Esperando. E criando.
Inventando um momento, um vislumbre.
E disso tudo só sobra a espuma. Porra, cade você? Nem ler isso você vai.
Portanto, quero que não saibas o quanto penso em tudo que já ouvi, li, e senti de ti e por ti.
E a partir desse momento, há um ultimato: ou vai ou racha.

Mentira. Posso esperar mais, e mais e mais. Sou tonto o suficiente para tanto.
E gosto disso tudo. Apesar de detestar.
E gosto tanto que posso ficar reclamando por meses. Ou até a minha paciência acabar.

O que, falo sério, não vai demorar muito.
Tomara, que antes de esgotá-la, algo aconteça.


É isso que eu quero.

Thinking Out Loud

Nunca fui de tomar muito café. Ultimamente, entretanto, isso tem se tornado um hábito. Agora mesmo gostaria de tomar um expresso. Sei lá se é apenas pra combinar com o frio de fim de tarde de primavera, ou com o clima de suburbio. Definitivamente, alguns músicos fazem muito mais sentido em dias nublados.
E as notas ao redor parecem fazer esfriar ainda mais. Como o vento dessa ilha, como o vento. E tudo esfria, e derrete. E o coração para de bater.
E o gosto amargo do café me faz querer levantar. Ir até a esquina, sentar e pedir. E beber. E pensar nisso tudo. E as palavras que saem lentamente pelas caixas de som me fazem querer ficar.
E é sempre assim: fico, vou, vou e fico. E fico esperando. Por milagres, talvez. Talvez seja hora de começar a rezar. Toda noite, antes de deitar, rezar. Pedir algo. Todos pedem. Eu nunca fui de pedir demais. Sempre procurei entender o que se passa. E agora não entendo, não peço, e tampouco tenho café.
Falaram-me de inferno astral esses dias. Fez tanto sentido, mesmo para mim. Daqui a menos de uma semana completo as 20 primaveras. Literalmente. E assim sendo, as vezes me esqueço de me aproveitar do fato que é ter apenas 19 anos. E sendo assim, esqueço que os tenho apenas. E por fim, vivo como se fosse mais velho. Deve ser esse o motivo do café.

Sempre considerei ser coisa de adultos:
1) saber fazer feijão;
2) gostar de café (crianças gostam de chocolate quente);
3) pagar o próprio aluguel;

No meu caso, apenas o tópico dois ainda não era verdade.
E agora é iminente.

Esta noite senti falta de estar dormindo abraçado.



Ao som de Emiliana Torrini, Thinking Out Loud.

terça-feira, setembro 26, 2006

Mais um dia tão comum como qualquer outro para ela.
Acorda, escova os dentes, banha-se. Veste-se, desce degraus, sobe mais cinquenta.
Algumas praças depois está no trabalho.
Trabalha, gosta do que faz. Mas faz tanto tempo que sente falta de sentir o coração palpitar...
Cair na rotina de uma vida faz tudo parecer entediante. Pune-se por ter sido tão precoce em tudo. Hoje, em seus vinte e tantos, sente-se velha. Velha, desinteressante. Sem vontades.
Pisa na barra da saia e vê algo que antes, talvez, a fizesse pensar em coisas mil. Porém, agora, apenas a faz ter vontade de seguir e esquecer. E segue.
Não entra em conflito nenhum com suas vontades. Segue as facilidades.
Esforça-se, sim. Mas o coração já está em outro lugar.
Os raios de sol que transpassam pelos galhos densos salpicando o chão fariam qualquer um olhar.
Ela não. É apenas luz. E nem é a luz de que precisa.
Pensa no que antes era capaz de fazer. Pensa tanto que quase chora.
Cadê aquela menina que tinha nos olhos a força para chegar aonde quer que fosse?
Cadê aquela menina que dizia não ter medo de amar?

Perdeu-se num percurso tão curto que quase ninguém consegue entender.
Paga por isso um preço mais alto do que gostaria.
Sente por isso uma dor que nenhuma tatuagem a faria sentir.
E todos os furos se foram. E todas as tintas desbotaram.

E é no sol do fim de tarde que ela pensa com qual roupa sentiria-se pronta para fechar os olhos e não mais abrir. Pensa, estampa-se.
E sabe como seria, se fosse hoje.
Mas não sabe fazê-lo. Há algumas pessoas que ela deve ver.
Há alguns caminhos a trilhar. E algumas peças perdidas para recuperar.

No momento, não há momento. É tudo vão.
Ela segue, masca chiclete, rumina o azul mais azul.
Enxerga pouco, e tem a visão perfeita.

E o futuro ela não vê. Nem quer.
Nem sabe.

Todos como ela devem saber.
E é por isso que escrevo para ela.

Porque eu sei.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Such Great Heights...

Acorda e se dá conta que está sozinho, olha para todos os lados e tudo que resta são roupas no chão.
Todos os dias, há alguns meses, lembra de como era quando tinha companhia, quando a cama esquentava mais rápido. Nos últimos dias frios do ano, tem bebido as taças de vinho sozinho.
Reclama? Não, não demais. Entende. E deixa passar.
Mas todos os pedaços avulsos que sobraram fazem doer. Tudo tão certo, tão vago.
E como saber? Queria poder viar por pulsos e entrar por dentro das orelhas, entender as sinapses.
Apaixonados são inseguros. Depois que tudo se assenta, e a vida deixa de ter aquelas cores que o coração pinta, sobra apenas a solidão que dói e faz pensar.
Cansar de pensar é algo tão comum.
Raro é saber lidar.

Espera que seja assim.

Cada vez que pára, sentado nessa cadeira, respirando o ar reciclado, tenta escrever algo que realmente diga algo sobre aquilo tudo que sente.
Mas como? Nem mesmo sabe o nome do que sente, nem mesmo sabe o que sente.
E descrever substantivos abstratos é tarefa de grandes escritores.
Ele sabe, é apenas amador. Mas sente que faz bem.
Ver as letras ordenando-se na tela, assim como os movimentos se ordenam na hora certa e no momento certo é um alívio.

Quando a pele sente-se confortável mesmo após vários minutos de mãos dadas, e quando a respiração faz o coração acalmar? Somente nestes momentos tem consciência do que sente.

E precisa dessa consciência para guiar os passos.
Quem sabe devesse ter ficado no século dezenove, toda essa balela.

Quem sabe.

terça-feira, setembro 19, 2006

Tempestade

Cada vez que olho pra trás e me pego pensando no que tenho dito e feito percebo que não sei mais quem sou.
Nem do que sou capaz.
E a língua bate nos dentes quando os cerro pra não falar o que não deve ser dito.
E percebo que vivo acariciando meus próprios cabelos, e que nem vejo mais a arte nos muros da escadaria que todo dia subo e desço, desço e subo.
Nem lembro quantos degraus são.

Penso em tanta coisa mais distante, tanta coisa... Nem sei se tem me valido a pena pensar.
Pensar demais.

E minha mão insistentemente bate e bate e bate na cintura, naquele osso característico dos magrelos. E todos os tiques eu começo a enxergar.
Falando calmamente consigo me ouvir.
Acomodado, talvez. Esperando um pouco de calma.
Dizem, que depois da tempestade, ela chega.

E que chegue. Daí sim volto a agir, pensando menos.
Quando tiver chão sob os pés, me dou asas.

sexta-feira, setembro 15, 2006

In vino veritas

Mais uma taça de vinho, por favor. Branco, seco.
E algumas verdades são tão espontaneamente reveladas, e algumas vontades assim realizadas, e em alguns momentos tudo parece tão simples, tão simples...
Alguns aparatos, um pouco de nudez. Não, não tão simples quanto o que se vê.
E ah, ah, ah! Ah, se você estivesse aqui. Ah, ah! Ah, se você existisse tanto quanto existo.
Se nossa existência sobreposta fosse tão próxima quanto me é próximo o que sei que sinto.
E se eu soubesse o que te passa, o que te faz sentir.


Preciso, hoje, de um pouco de proximidade, calor. Pele, toque.
Preciso sim.
Outra taça de vinho e nem preciso mais. Esqueci. Até amanhã;
Ou até deitar a cabeça num travesseiro de camomila, daqueles que se pensa fazer dormir, e lembrar. Ou não.
Dormir. E sonhar. Ou não.

Qual o sentido de sonhar dormindo quando se pode sonhar acordado?

E diz Leminski: "idades, idades, idades..."


Beijo de boa noite, e fim.

domingo, setembro 10, 2006

moi aussi.


disse e concordando, mudou de canal.


mental.

sábado, setembro 09, 2006

E tudo continua exatamente como era.


Palavras ecoando, com ou sem sentido, e tudo se esvaindo.





E uma certa nostalgia.








Agora, sei bem o que é nostalgia.


quinta-feira, setembro 07, 2006

E cada vez que escrevo aqui percebo que me conheço menos.

E sendo assim, como posso me propor a conhecer alguém melhor?



Oraora, menino.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Primaveril

Sente o frio lhe tomar a pele. Tem preguiça de tomar banho. Mas não consegue ficar sem.
Move-se, enrigecido. Vai até o banheiro, acende as velas, tira as roupas. Lentamente sente o vapor do chuveiro tomar o banheiro.
Um cigarro antes do banho, por favor.
A água quente molha, e não esquenta. Há um motivo para ser tão frio?
Treme. Frio ou medo. De estar sozinho, de verdade.
Desliga o chuveiro, espasmos percorrem o corpo.
Pelos se eriçam, e a toalha os acalma.

Veste-se. Fantasia-se.

E nunca, nunca um banho o fez sentir tão gelado.
E nunca, nunca um inverno primaveril fez tanto sentido.


Primavera, estação dos amantes.
Deve ser esse o motivo de tamanha frente fria.

(palavras emprestadas)






'O esqueleto aquecido. Vem vindo o sol. Atraco-me comigo, disparo uma luta. Eu e meus alguéns, esses dos quais dizem que nada têm a ver com a realidade. E é somente isto que tenho: eu e mais eu. Entendo nada. Meus nadas, meus vômitos, existir e nada compreender. Ter existido e ter suspeitado de uma iridescência, um sol além de todos os eus. Além de todos os tu.' (Página 48, Com meus olhos de cão, de Hilda Hilst).'



"Eu dizia "apareça" Quando apareceu, não esperava Um dia me beijou e disse "não me esqueça" Foi embora E só esqueci metade Que bom que eu não tinha um revólver Quem ama mata mais com bala que com flecha Ela deixou furo E a porta que abriu Jamais se fecha"

"O dia em que fui mais feliz Eu vi um avião..."

domingo, setembro 03, 2006

Cegueira de sentimento, lente de aumento.

Derreto
Em lágrimas
Em sal
Desidrato
E sinto
Sinto que não posso ter
Ser
Enquanto tudo é
O que não posso

E olho,
para os dois lados
E vejo,
E perco
E sigo

Cego

E quero,
E posso,
e não sei fazer.
E leio
E desentendo
Não posso compreender

Que falta me fazem teus olhos quando não posso ler
Compreender
Esmiuçar
E saber.

pontuando corretamente

Entre todos os parenteses, aqueles que fazem pausas e explicam , vejo que minhas dúvidas são só minhas.

Acorde, tome seu café, pense na sua vida, pense.
Abra as janelas, inspire. Respire.
Aspire sua própria fumaça, e a da cidade.
Abra os olhos, esfregue-os com as palmas das mãos.
Lave seu rosto, escove seus dentes, limpe embaixo das unhas.
Vista-se, arrume seu cabelo, saia.
Ande, coma, veja, fale.

Sinta.


Espero que nas vírgulas do teu cotidiano, nosso pensamento se cruze, e você saiba que penso em ti, e eu sinta que pensa em mim, e assim sejamos um pouco menos sozinhos...


Adriana Calcanhotto canta, e eu escuto, e tudo é verdade.


Acho que sinto demais, sinto.
Sinto por mim, por ti, por todos.
E sinto muito, mas não posso sentir tanto.
Não assim, sozinho.
Pensar em tudo, pensar.
Assim, na minha solidão.
No escuro que cerca meus olhos já abertos.
Na dor que sinto depois da anestesia do mês que se foi.
Dentre meus problemas, sem solução aparente ou imediata,
Percebo que não sei não saber fazer...

E agora? O que dizer?

Além do que já digo aqui, além da saudade dentro dos olhos,
Do espelho,
De mim.

Sinto falta, sinto. De tudo que foi meu, por pequenos instantes, e agora...
Agora... longe, frio, e venta.

Quero, e quero muito.
Quero que entre por essa porta agora,
Quero que me diga o por quê dos poetas,
E quero que me mostre um inverno menos glacial...

Dentro de mim.
(mesmo sem saber)







"É melhor ser vão

Tudo o que pontua

Nossa escuridão. "